“Os alunos de Harvard reclamam o tempo todo por terem de ler. Deploram qualquer tarefa que exija a leitura de mais de 25 páginas; consideram-nas tediosas ou excessivas (isso quando não repassam o trabalho para o ChatGPT). É muito raro que nos peçam para ler um livro inteiro, e é ainda mais raro que o leiamos até o fim”.
A frase acima foi tirada do artigo “It’s Time for Harvard Students To Pick Up a Book” [“É hora de os alunos de Harvard pegarem um livro”], publicado no Harvard Crimson, jornal dos estudantes da universidade. Com mais de cem anos de existência, entre seus ex-editores encontramos nomes de presidentes dos Estados Unidos e CEOs de diversas empresas globais.
Agora, o que levou a autora – uma aluna de graduação chamada Claire V. Miller – a manifestar essa queixa, que contraria muito do que associamos a Harvard? Afinal, a universidade é um exemplo de excelência acadêmica, pesquisa rigorosa e amor pelos livros e o conhecimento. O que falta?
Falta literatura, ela diz. Embora todos os alunos de Harvard tenham de cursar algumas disciplinas de Arte e Humanidades no começo da graduação, a autora argumenta que a ausência de leitura de ficção prejudica a “vitalidade intelectual” da universidade. Ela explica:
Nenhum outro meio nos possibilita encarar deliberadamente a ambiguidade moral como a literatura. A ficção nos permite parar para reconhecer um problema que, do contrário, passaria despercebido. Ela exige que os leitores tentem compreender verdades desconfortáveis e vilões por quem acabamos sentindo empatia.
Ao ler ficção, os estudantes encontram as próprias respostas para essas questões. Assim, nossa aversão à literatura resulta em uma incapacidade coletiva de participar de conversas desafiadoras e debates” […]
O ponto levantado pelo artigo está no cerne da missão do CEHDI. A grande literatura amplia nossa percepção e nos faz “parar” para enxergar aquilo que muitas vezes – pela corrida por produtividade, pelo comodismo dos “safe spaces”, pelo desejo de não “pensar demais” – acabamos deixando de lado: nossos afetos, nossos desejos, nossos princípios, nossas relações. O que artigo deixa entrever é que a literatura nos faz entrar em contato com nossa própria humanidade. E que só sendo humanos conseguimos dar soluções humanizadas às questões que a vida nos traz em todos os seus âmbitos, inclusive o corporativo.


